quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O "Cara" - Capítulo 4

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Matéria retirada do jornal “A Manchete” publicada no dia 4/12/2005

TRAGÉDIA NA CIDADE F! O CASO DO COLÉGIO F
            Na manhã do dia 2 de dezembro, por volta das 10 horas, um massacre ocorreu no Colégio F. Praticamente todo o quadro docente foi assassinado de forma brutal, assim como cerca de 6 (seis) alunos. Após as mortes, o suspeito de cometer os crimes ateou fogo em todo o colégio. Os nomes das vítimas e do suspeito não foram divulgados pela polícia e não há idéia do motivo dos crimes.
            Testemunhas contaram à polícia que o suspeito simplesmente enlouqueceu e partiu para cima de um professor durante uma aula (que não foi divulgada pela polícia), mas o jornal especula que tenha sido uma aula de física.
            Muitos dos alunos presentes no momento que o transtorno iniciou estão em estado de choque. “Tudo aconteceu muito rápido. Quando dei por mim, uma batalha se iniciou. Digo batalha, porque lutavam de igual para igual.” Disse T.P.A, segundo inquérito policial. Peritos dizem que o estresse que esse aluno passou foi grande e que é normal ele fantasiar sobre o evento ocorrido.
            O suspeito continua foragido, mas a polícia garante que está próxima de capturá-lo.

Matéria retirada do jornal “A Manchete” publicada no dia 6/12/2005

PRESO SUSPEITO DO MASSACRE DO COLÉGIO F
            Na madrugada do dia 5, foi preso o suspeito de executar brutalmente 6 alunos e um numero não divulgado de professores do colégio F na última sexta-feira. A polícia ainda não divulgou o nome do rapaz, mas afirma ser um dos estudantes. O menor resistiu à prisão usando de violência, ferindo três policiais gravemente, todos com traumatismo craniano, e um deles ainda perdeu um pouco de massa cefálica, utilizando uma barra de ferro.
            Foram apreendidos na casa onde o menor foi detido a barra de ferro, um taco de madeira com pregos na ponta e uma espada japonesa sem fio. Ele se dizia inocente por estar fazendo um favor a sociedade. “Ele estava totalmente fora de si, agrediu três oficiais gravemente e outros dois que não sofreram nada além de escoriações leves.” Disse um policial.
            Depois de ser detido, o menor foi encaminhado a delegacia de polícia civil e transferido provisoriamente para a penitenciária estadual da cidade F, para que uma possível tentativa de linchamento fosse evitada.

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            - Meu Deus, Cara... O que foi que você fez? Como que chegou a esse ponto? – Lúcia se perguntava ao rever algumas manchetes de jornais.
            Nunca antes tinha encontrado um caso assim. Uma pessoa que consegue dar tantos detalhes em uma história. Mas ao mesmo tempo em que parecem reais, são totalmente absurdas. Já viu e escutou muita coisa em todo o tempo que possui de experiência, mas nunca nada assim.
            Não podia duvidar de que ele era realmente um perigo a sociedade, afinal, ela viu, com os próprios olhos, aquele sujeito de 1,80m e cerca de 90kg surrar dois seguranças que seriam o dobro do tamanho dele, sendo parado somente por um que tinha o triplo do seu tamanho.
            - Dra. Lúcia? – Uma voz de homem soou as suas costas.
            - Sim? – Ela se virou.
            - O rapaz aquele deseja vê-la novamente.
            - Ah, sim, diga a ele que já estou a caminho.
            - Ok, sem problemas. – Fechou a porta da sala dos arquivos e escutavam-se seus passos se distanciando.
            Organizou as reportagens dentro da pasta “Orlando ‘Cara’ Santos”, pegou a ficha e guardou a pasta dentro do armário de arquivos que ficava na parede oposta a da porta, no canto direito e saiu.
            Atravessou alguns corredores, ora dobrando a direita, ora a esquerda e, enfim, chegou ao quarto 212. Não precisava procurar o número, bastava procurar pelo Maicon, o segurança que conseguiu detê-lo da ultima vez, que estava parado ao lado da porta do quarto dele.
            - Preparado pra mais uma, Maicon? – Perguntou a mulher.
            - Sempre que solicitado, senhora Lúcia. – Bateu na porta de metal com violência. – Cara, ta na hora da entrevista.
            - Podem entrar. – Disse ele, lá dentro.
            Maicon abriu a porta e entrou na frente.
            - Por favor, sente-se na cama e ponha as mãos em cima da mesinha ao lado. – Disse o segurança com a mão no cacetete.
            - Sem problemas. Estou sedado também.
            - Boa tarde, Cara.
            - Dona Lúcia, que surpresa agradável! – Falou com entusiasmo.
            - Como surpresa? Tu já sabias que eu viria...
            - Sim, sim. Apenas força do hábito.
            - Oh, tudo bem, então. Podemos começar?
            - Sem problemas. Posso começar de onde eu parei se preferir...
            - Na verdade, Cara, eu gostaria de começar com uma pergunta.
            - Se eu puder responder...
            - Quantos professores tu matastes?
            Ele começou a rir. Gargalhar, na verdade. Então, começou a contar nos dedos.
            - Se não pulei nenhum, ou se não contei nenhum duas vezes, matei dez. – Ela olhou com um certo espanto para ele. – Por que a pergunta, querida Lúcia? Não tem essas informações nos jornais?
            - Na-não... – ainda um pouco abalada – A polícia não divulgou um número oficial e estranhamente muitos familiares não se manifestaram em relação aos entes mortos.
            - Claro, os professores que matei eram demônios. Bestas do inferno. Não tinham familiares.
            - A polícia encontrou, além da barra de ferro, que você usou para resistir a prisão – ele sorriu com a lembrança – outras duas armas. Um taco com pregos na ponta e uma espada japonesa sem fio. Por que tu carregavas essas armas?
            - Tinham armas que funcionavam melhor com cada um deles. Por exemplo, para enfrentar o Humberto, eu precisava usar a espada, mas ela tinha fio. Perdeu o fio de tantas batalhas travadas. Não se vende para menores em lugar nenhum no Brasil uma espada com fio, então, eu tinha que fazer o fio nela, o que não era muito bom, mas quebrava um galho. A barra de ferro funcionava muito bem com o José e o Roberto.
            - Roberto?
            - Não apresentei na história ainda, era um dos professores de matemática.
            - Hum... Podes falar a respeito?
            - Claro, sem problemas.
            Professor Roberto era uma grande alma. Foi disparado o melhor professor de matemática que eu tive. Porém, como todo humano, é suscetível a tentações.
            Em 2004, como eu disse, ele foi um grande professor, porém, em 2005, um grave acidente matou seu sogro e sua sogra. Angelina, sua esposa, ficou muito deprimida, e, um dia, ela apareceu enforcada na sala do apartamento onde ele e ela moravam juntos. Então, ele mudou. Começou a agir que nem um deles. Levava estudantes para sua sala com a desculpa deles tirarem dúvidas e, puf, desapareciam sem deixar vestígios. Acredito que ele usava sua boa credibilidade com os alunos para atrair vítimas para os demais professores.
            Certa vez eu vi ele levando uma guria do primeiro ano para sua sala. Fiquei na espreita, então, eu escutei na sala do José, o grito dele. Tive que correr pra lá e tentar impedir. Nesse dia foi o primeiro e único que eu consegui evitar. Era um colega meu que estava lá. Ele não tinha problema de visão, então, devido à magia do José, ele teve uma seqüela na visão. Ficou conhecido mais tarde como zarolho. Ingrato.
            - Imagino que esse tenha sido um dos seis alunos que você...
            - Exatamente, mas isso é outra história.
            - Certo.
            - Então, depois de arrebentar a cara do José pela enésima vez, eu voltei correndo pra sala do Roberto, e a guria não estava mais lá, mas eu pude escutar uma risada vinda da sala da Rafaela. Corri até lá e consegui ver o corpo da menina caindo sem a cabeça e sem sangue.
            Seu bastão brilhava, acho que era assim que ela re carregava o poder de sua magia, retirando a mente e o fluido vital de suas vítimas. Tentei acertar a bruxa ao arremessar minha barra de ferro, mas ela sumiu bem na minha frente, assim como o corpo da pobre menina, segundos depois.
            Fui até a sala do Roberto e ele estava ali, me encarando, com olhos que eu não reconhecia mais. Ataquei, mas o infeliz sabia se defender. Praticava Tae Kwon Do. Foi uma peleja dura. Depois que ele me desarmou, parti com as mãos nuas para um tudo ou nada. Ele estava meio destreinado, fazia muito tempo que não praticava, então, com sorte eu consegui acertar um soco potente no seu rosto, fazendo ele cair em cima de uma mesa, que se quebrou. Peguei então uma das pernas da mesa e não pensei duas vezes. Comecei a golpear. Primeiro ele conseguiu defender um golpe, mas o segundo eu acertei na canela, quebrando-a, junto com a perna da mesa. Ele rolou de dor no chão, então eu pisoteei a sua cabeça e quando ele começou a se mover menos, peguei a barra de ferro e desferi três golpes na sua cabeça, pondo um fim na história. Até a Rafaela ressuscitar ele e o José assim que eu saí do prédio.
            - Obrigada, Cara.
            - Mas já?
            - Sim, até a próxima.
            - Ok, então. Até.
            - Tchau. – Lúcia pegou o gravador, levantou e saiu, junto com Maicon, que vinha logo em seguida.


            Dedicado ao grande amigo e co-autor, Thiago Ávila Pouzada

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