terça-feira, 29 de maio de 2012

O coito e a cultura pop


            - Acho a Madonna uma ridícula. – Disse Paulo, enquanto caminhava ao lado de Greice, e do lado esquerdo do cordão da calçada.
            - Ah... Não fala da Madonna... – Greice falou com uma tristeza na voz.
            - Veja, ela tem 60 anos já.
            - E?
            - Bem, ela age como se tivesse... Sei lá... 20... Se acha a Britney Spears em início de carreira.
            - As músicas são inteligentes...
            - Concordo. Mas eu me refiro ao visual.
            - Ela tem dinheiro e pode ficar jovem do jeito que conseguir pagar. Toda mulher sonha com isso na metade da idade dela.
            - ... Eu sei... O que eu quero dizer – falou mais alto enquanto uma moto passava barulhentamente por eles – é que ela não assume a idade. As roupas... O cabelo... Aqueles collants... Iguais aos que ela usava quando cantava “Like a virgin”... Meu Deus! Visão do inferno.
            - Queres que ela use o que? Avental de cozinha e xales? Hahaha! Ela vai aparecer na TV, não esquece.
            - Como se mulher de 60 anos usassem somente aventais e xales...
            - Eu sei, só estou brincando contigo. Entendi o teu ponto. Pensando por esse lado...
            - Imagina se a gente passa por uma vovó agora usando uma calça de couro ou uma legging... Branca! ARGH!
            - Hahahaha! É o mesmo que ver os vovôs do rock sem camisa. – Greice fez uma cara de nojo.
            - Mas eles se aposentam antes dos 60... Com raras exceções. Ou morrem... - Titubeou - Aos vinte e poucos... 
            - Fato...
            Caminharam em silêncio por algum tempo. Paulo não sabia precisar. Greice não pareceu se importar, mas Paulo sim. Estava apaixonado por essa Polaca de farmácia de olhos castanhos. Olhava a paisagem em busca de inspiração para puxar assunto. Aquele maldito momento onde se está com quem se nutre uma forte paixão e, simplesmente não sabe o que dizer. Olhou para uma praça a sua esquerda. Apenas um bando de garotos jogando futebol. Três dentro três fora, em uma goleira sem redes, para ser mais exato.
            A mutês continuava e isso o incomodava... Essa falta de assunto.
            De repente, uma guria se aproxima. Ele tem um choque:
            - Meu Deus!
            - Que foi? – Greice pergunta.
            - Aquela guria... – Falou alto.
            - Estás falando alto! Cala a boca! – cochichou intensa e encabuladamente.
            - Ih, foi mal! – Avexou-se
            A guria passou encabulada pelo casal, devido o esparro do Paulo, porém, deu uma leve encarada nele. Greice sentiu-se enciumada com a situação.
            - Ela é igual a Kelly! – falou Paulo.
            - Que Kelly?
            - Do “Misfits”. Só que morena.
            - Não reparei. Fiquei com vergonha de olhar, depois do teu esparro.
            - Foi mal.
            - Tudo bem...
            - Chegaram à parada de ônibus. Ficaram em silêncio. Aquele silêncio novamente, que paira sobre os casais apaixonados, onde um está a fim do outro, mas ambos são estúpidos o bastante para não perceberem a reciprocidade.
            A parada fica em frente a uma padaria/sorveteria/cafeteria. Uma menina de cerca de dez anos de idade, cabelos compridos castanhos e até as costas, com uniforme do colégio, calças azuis - claras e camisa branca de manga curta, passou correndo pelos dois. Depois outra, provavelmente perseguindo a amiga, ou irmã, porque eram muito parecidas.
            Greice percebeu que Paulo estava perdido em pensamentos. Resolveu perguntar sobre o que se passava ali em marte, lugar onde ele provavelmente estava, para puxar assunto, tomar uma iniciativa, pois percebeu que Paulo era realmente muito tímido, e que ele nunca tomaria a iniciativa. Não era seu costume dar o primeiro passo, mas não se importou. Julgou que o rapaz valeria a pena.
            - Alô, alô! Terra chamando Paulo.
            - Oh, me desculpe! Estava distraído... – corou.
            - Não foi nada... Quer compartilhar o que pensava? – A falsa loura deu um sorriso realmente lindo.
            - Ahm... Ah... É que... Aquelas guriazinhas me fizeram pensar numa coisa...
            - Pode falar. – Greice manteve o sorriso.
            - Eu tava pensando sobre o futuro delas. Que elas se tornariam máquinas de fazer sexo e sedutoras/devoradoras de homens. Arrumarão um namorado daqui uns três anos. Fugirão de casa para foder e ficarão grávidas. Depois, de repente, voltam para casa, deixando para os avós criarem a criança, arrumam um novo namorado e voltam a foder. Na verdade, a culpa não é delas. Está na TV, nos canais infanto-juvenis, nas músicas mais tocadas nas rádios, nas lojas de roupas, nas escolas, no shopping  center, na igreja, seja evangélica, católica ou o diabo que for, e nos próprios adultos. Talvez seja impossível fugir disso... Nah... Existem ainda os cemitérios.
            Greice sentiu que seu sorriso ia se desfazendo assim que Paulo construía o seu parágrafo. Ela não disse nada. Nem concordou e nem meneou com a cabeça. Ficaram em silêncio novamente.
            Então o ônibus chegou. Paulo subiu e Greice se despediu dele.
            Ele nunca mais a viu.

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