terça-feira, 8 de maio de 2012

Sem norte


            Jeremias andava pela rua a esmo. Havia se formado no ensino superior. Estava confiante com as promessas de emprego e vida resolvida. Depois de dois anos, descobriu que o canudo era apenas um consolo de papel. Um consolo de vinte e cinco centímetros. Ninguém queria saber daquele curso, ainda mais alguém formado naquilo. Era o mesmo que dizer para as pessoas que trabalha como músico ou que é poeta. A pergunta subsequente a essa afirmativa é sempre a mesma “Tá... mas eu quero saber no que você trabalha?”. Enfim, uma sub-raça. Uma sub-raça do caralho. Pior que dizer que é ladrão ou assassino. As pessoas respeitam mais, mesmo que seja pelo medo. Pior que ser filho gay de um pai conservador. Têm igrejas que dizem curar esse mal. Ainda teria uma solução.
            Estava desnorteado, encachaçado e fedia. As pessoas o definiam como louco, mendigo ou, simplesmente, perdedor. E ele sabia disso. A mulher o tinha deixado. Ela ainda o amava. Palavras ditas no dia em que ela foi embora. E ele também. Ainda é totalmente apaixonado por ela. Mas que mulher que vai querer um sujeito que seja incapaz de lhe prover sustento? Um abrigo? Uma estabilidade? Mesmo que seja dessas moderninhas, com sentimento de liberdade e independência.
            Sofia não saía de sua cabeça. Antes a bebida fazia o seu dever de prover o esquecimento, mesmo que por alguns minutos, porém, o corpo adquiriu uma resistência ao álcool e ele não fazia mais efeito. Imagens dela em seu primeiro encontro, seu primeiro beijo, quando a pediu em namoro, quando a disse que a amava pela primeira vez, quando ela disse que o amava pela primeira vez, e quando prometeu a ela que tudo ficaria bem e que se casariam, após uma tormenta na vida dela, vinham a sua cabeça. Por isso caminhava sem rumo. Pensava que, caso chegasse a exaustão física, perderia a consciência e, assim, acabaria parando de pensar nela, se tivesse sorte, seria por algumas horas. Até dormir era um martírio. Era quando sentia mais falta de seu toque, da sua inquietude que não o deixava dormir, seus cabelos negros caindo no rosto e boca não que também não o deixavam dormir, das conversas sobre o dia, dos aconselhamentos, da cumplicidade, dos corpos gelados tentando se aquecer no inverno enquanto dormiam de conchinha... 
            Estava introspectivo quando começou a atravessar a rua. As lembranças vinham do interior de sua mente e eram projetadas por seus olhos. Sabia que estava perdendo a razão quando via o rosto da amada na face de cada mulher que passava por ele. Depois, sentiu que flutuava. Alcançou o céu, tocou as nuvens... Sofia o estava abraçando. Pedia perdão e o beijava.
            De repente, sentiu um baque e ficou tudo escuro.
            Estava em paz.

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