terça-feira, 17 de julho de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" Parte 3 de 7


            - Vovô! Cheguei! – Alana falou ao chegar depois de mais um dia de trabalho. Ela ouvia barulhos de marteladas e serras a distância, vindos do segundo andar de sua casa. Seu avô encasquetara que iria fazer um esconderijo secreto, por precaução, caso o pior acontecesse durante a guerra. Ela achava graça, pois todo mundo sabia que estavam vencendo a guerra.
            Devido à idade de setenta anos e a barulheira das ferramentas, ele não havia escutado a neta. Alana, percebendo que o avô não respondera, foi até o cômodo e gritou “Vovô!”. Assim, o senhor calvo e com alguns fios grisalhos remanescentes ao redor, levantou os óculos de proteção para os olhos, enquanto girava a cabeça em direção a neta. Ele ficou em silêncio por uns instantes e com o olhar perdido.
            - O que foi vovô? – Perguntou intrigada.
            - Como tu estás parecida com a tua mãe e também com a tua avó Hehehe... Levei um choque...
            - Para, vovô... O senhor sempre diz isso...
            - Eu sei, eu sei... Mesma tonalidade avermelhada dos cabelos, olhos verdes, nariz de batatinha...
            - Tá bom, vovô. Ok... – Respondeu com ternura, mas com a falta de paciência de quem já ouviu a história mais de cem vezes. – O que o senhor quer jantar?
            “Surpreenda-me”, os dois falaram ao mesmo tempo e riram.
            - Suas tiradas estão ficando previsíveis, seu Nikolai.
            - É a velhice... Depois eu invento algo novo.
            - Certo... Vou fazer a janta... – Alana se virava quando Seu Nikolai a interrompeu.
            - Chegou uma carta do Ranzo hoje mais cedo.
            - Sério?! – Não percebeu, mas tinha gritado. Saiu correndo para pegar a carta, mesmo sem saber onde estava.
            - Deixei em cima da tua cama! – Gritou o avô, ao perceber, pelo barulho, que a neta descia as escadas. Ela parou subitamente, então os barulhos dos paços voltaram a aumentar de volume e tornaram a baixar, pois Alana, agora, se afastava da peça onde o avô se encontrava e rumava para o seu quarto.
            Ao ler a carta ficou aliviada, porém, confusa. Sentiu que a carta estava curta de mais e direta de mais. Não sabia dizer o motivo, mas logo creditou a sua mente saudosa e preocupada. Atribuiu também a expectativa proporcionada pelo atraso, logo, não deu mais bola para isso.
            Gostou muito da parte romântica. Ranzo não era um estereótipo de soldado. Era muito romântico. Alana sentia o peito aquecer e o corpo derreter, e, assim, como todo bom Nombarathiano, gargalhava na parte em que o namorado contava como matou dois Ishtarianos usando apenas uma faca. Primeiro fora cercado e estava sem munição. Em seguida se escondeu atrás de uma árvore de tronco muito expeço. Agachou-se e esperou. Quando viu o pé de um dos desgraçados, cravou-lhe a faca e, levantando-se com agilidade, fez um corte vertical no pescoço do infeliz, utilizando a mesma faca. O segundo, vendo que o companheiro não tinha mais salvação, disparou uma rajada de 10 tiros em Ranzo. O jovem soldado Nombarathiano usou o corpo da vítima como escudo e tomou abrigo novamente na árvore. O Ishtariano pensou que Ranzo iria utilizar a arma do companheiro abatido para contra-atacar, e isso levaria algum tempo, pois ele teria que tirá-la das mãos mortas do soldado e empunhá-la, então, girou nos calcanhares e correu em direção a uma árvore. Todavia, Ranzo não investira na submetralhadora do inimigo, apenas tomou abrigo. Em seguida, espiou o alvo e, vendo que corria, cometendo o grave erro de dar-lhe as costas, arremessou a faca, que acertou em cheio a nuca, dando fim a mais um Ishtariano nojento.
            Satisfeita com a façanha, aliviada pela carta e apaixonada pelo romantismo (e heroísmo!) do namorado, Alana foi para a cozinha preparar o jantar.
            Suspirava.

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