sexta-feira, 3 de maio de 2013

A demência, a putaria e o trivial: o monólogo dual de uma mente em debate


            Era uma manhã de sábado e não tinha nada para fazer. Eu tinha perdido o sono fazia mais de meia hora, mas ainda estava deitado na cama, com preguiça de levantar, ou esperança do sono voltar. Em todo caso estava ali, de bruços e atravessado, olhando para o tapete no chão. Eu tenho um certo medo da minha própria cabeça, coisa normal para quem já esteve a um passo da loucura por duas vezes, e provavelmente você não entendeu o que eu quis dizer com isso. Contudo, isso não vem ao caso.
            Minha mente viajava a mil por hora e eu posso afirmar com toda certeza que não havia bebido e nem me drogado de qualquer outra forma, é pura e simplesmente a minha cabeça entediada e um tanto ansiosa, sabe-se lá por que, que funcionava, através de uma espécie de diálogo comigo mesmo.
            Pensava em sexo, porque tinha acordado de pau duro, mas não tem nada aqui haver com masturbação, fique tranquilo. Logo em seguida vieram algumas ideias muito ruins sobre o que escrever. Algumas putarias, mas não sou muito fã de escrever putarias. Aconselho que assistam filmes, é muito melhor. Com isso, perguntei-me: pra que escrever putaria? Que vão comer uma mulher, oras! Se não conseguem conquistar uma, que paguem. Então me lembrei de músicas funk... Na verdade, fui forçado, pois um vizinho havia começado a escutar isso a todo volume. Dei-me ao luxo de prestar a atenção em uma letra e cheguei à conclusão de que eu assistia a um filme pornô pelo rádio. Era um festival de passar a piça na cara dela, de foda de quatro, de foda papai-mamãe, de gozadas, de mamadas... Tudo isso com crianças menores de dezesseis anos –as novinhas. Fico pensando que se censura tanta besteira hoje em dia, como bixas se beijando na rua, desenhos animados adultos, que são passados para as crianças, só porque são desenhos animados, até propagandas de cerveja e perfume (procure na internet por uma protagonizada pela Keira Knightley), mas permitem filmes pornôs no rádio e a qualquer hora. As mulheres que participavam do filme até gemiam. Disk Sex, total. Isso me levou às feministas, que lutaram muito e conseguiram a incrível façanha (sem ironias aqui) de desassociar – agora essa coisa toda está começando a voltar - a ideia de mulher-objeto nas propagandas de cerveja, mas ficam rebolando o rabo quando toca uma merda dessas. O que me levou a outra ideia: Porque não conseguem derrubar o funk? Simples, elas gostam de tomar umas boas pirocadas e que cantem sobre as façanhas, afinal, é a liberdade sexual. Depois de meia dúzia de pirocadas e um bom e generoso pé no meio do rabo, elas saem postando na internet que nenhum homem presta, mas se atiram pro primeiro sertanejo que passa com um Camaro, ou Dodge Ram, ou um funkeiro com uma barra forte e uma caixa de som de quarenta reais conectada a um mp3 player do camelô.
Incongruência e extremos.
            Justifiquei-me que não sou machista, afinal, machista é quem curte um macho, e isso, definitivamente, não é pra mim. Por isso que, na maioria das vezes, minhas heroínas são mulheres, algumas poderosas, outras femme fatale, outras inteligentes, outras lindas de doer, e até mesmo meigas, mas nunca burras... Nem feias... Se eu disser que é porque não existe mulher feia, serei hipócrita, já vi cada coisa nesse mundo...  Mas enfim, imaginar mulher bonita é crime? Apenas uma imposição inconsciente da sociedade e pelos artistas. Pra quem acha que isso é coisa da vida de hoje, leia Iracema, Amar, verbo intransitivo (um ótimo roteiro de filme pornô B)... E quer melhor descrição de beleza de um substantivo feminino do que a Canção do Exílio?
            De qualquer forma, seguirei escrevendo sobre mulheres lindas, inteligentes e poderosas, e você, que acha que eu sou machista, lembre com bastante ódio que elas são tudo o que você sempre quis ser.
            Revirei-me para outro lado, vendo que tudo isso que eu estava pensando não fazia sentido algum, ainda mais porque eu imaginava tudo com uma forma de diálogo, entende?
            Depois pensei em mídia, o papel que essa porcaria tem em cagar em cima de qualquer coisa e vomitar asneiras, do tipo “dar direito aos homossexuais fará com que todo mundo vire homossexual”. Basta estudar, não muito, só um pouquinho, de história e lembrarmos que negros não eram gente até a abolição da escravatura, ou melhor, até a Inglaterra precisar de mercado pra vender suas quinquilharias industrializadas. Enfim, não me lembro de ninguém ter virado preto, já que os bros estavam em “alta”.
            Ainda sobre a mídia: o enaltecimento de tudo que é chinelagem. Já é a terceira novela em que a personagem principal é favelada. Minha gente... Entendam de uma vez: ser favelado não é legal, é uma consequência de má administração da máquina pública e um descaso com os menos favorecidos. Ninguém que está na favela gostaria de ser de lá, sabendo como é morar em um bairro tranquilo e de riqueza. Só a classe média boçal brasileira acha interessante e intrigante e fodasticamente maravilhosa toda e qualquer forma de expressão advindas daqueles lugares miseráveis e com falta de estrutura, onde as pessoas são mantidas lá dessa forma por uma simples questão de curral eleitoral.
            Falei que não gosto muito de escrever sobre putaria, mas, aqui vai a maior de todas: um papo cabeça, com a minha cabeça, sobre política. Mas não aquele esperneio por maiores salários ou alunos violentos (fazendo uma retomada a questão da educação falado a dois parágrafos atrás). Até gostaria de ter um, pra poder enfiar uma ou duas porradas no meio da cara e alegar legítima defesa.
Lembrei-me do dilema brasileiro entre uma pseudo-esquerda e uma direita radical e conservadora (privatizadores aliados a católicos e evangélicos, todos com um patrimônio que daria inveja a muitos países). Lembrei-me dos seus respectivos militantes, que, se deixar, enfiam as bandeiras uns nas uretras dos outros em meio a tanta pancadaria que o encontro entre duas militâncias rivais poderia proporcionar - outra coisa que adoraria ver - e, depois, faria questão de cuspir sobre cada um dos que estivessem deitados e arrebentados no chão, afinal, estão ali, estupidamente espancados em prol de uma causa ou o que for, enquanto que nos bastidores da política, é pastor chupando pau de padre, padre dando cu pra comunista, comunista enfiando o dedo no cu de privatizador, enquanto esse enxuga a porra da boca com a grana da última propina de uma multinacional que financiou a putaria toda.
Então, enchi o saco e levantei da cama.

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